sábado, 26 de dezembro de 2009

CRENÇA, RAZÃO e CONSENSO




Os debates humanos éticos podem ser observados, ao menos a partir de três elementos básicos:

Crença: “Quem imagina que é, e que realidade releva”;
Razão: “De que elementos analíticos se alimentam os que crêem”;
Consenso: “Como se harmonizam as crenças num elemento comum”;
Ultrapassadas estas perspectivas, há espaço para um acordo de vontades multilateral.
Contudo, encerrada a conferência mundial sobre mudanças climáticas, resta uma indefinição brutal em face do enigma principal:

“O aquecimento global é uma questão relevante para ser resolvida ou apenas debatida?”

Crença
- Cada Nação tem seu padrão de organização, cultural, política e econômica, e todas são soberanas para decidirem sobre suas obrigações futuras;
- Os países mais desenvolvidos devem desembolsar mais investimentos, pois poluíram e poluem mais;
- É possível estabelecer metas para o aquecimento global;
- Poderemos tomar estas decisões de finitivas em outras conferências, nos próximos vinte e cinco anos;
- O padrão capitalista de exploração econômica atual deve ser mantido;

Razão
- As evidências climáticas nos advertem da intensidade das mudanças que já ocorrem de forma dramática no planeta, em tempo relativamente curto e incerto, como será também com as conseqüências;
- As tecnologias disponíveis para entendimento do problema são adequadas e disponíveis;
- A importância de uma reunião de representantes globais qualificados demonstra um alto grau de probabilidades organizacionais favoráveis e análise coletiva dos riscos e oportunidades;
- A sofisticação das negociações, através da metodologia de acordos internacionais de debate e decisão, permite ao menos estabelecer os paradigmas categóricos, bem como seus elementos formadores. Ao mesmo tempo é apenas processo, que não parece estar enredado com a vida real, a da emergência;

Consenso
- As conferencias mundiais são o fórum adequado para formação decisória global;
- Devem haver mudanças comportamentais em todas as esferas e direcionamento de esforços na compreensão e mobilização em face do problema comum;
- Todos são corresponsáveis;

O Consenso termina aí, na questão “COMO FAZER ?”.
Quando passa a ser necessária a mudança radical nos modelos de exploração cultural, política e econômica, internos e externos aos países, o impasse se dá.
Uma coisa é reconhecer um problema, outra bem diferente é mudar o comportamento causador.
Assim a pergunta, resolveremos ou debateremos?
Segundo Wen Jiabao, premier chinês, ainda existem cinco problemas cruciais a serem resolvidos, quais sejam:
-elaboração de um documento básico de negociações;
- aplicação de uma meta da redução da emissão de gases de efeito estufa;
- viabilidade para o cálculo, comunicação e verificação da execução da mesma;
- definição de uma meta de longo prazo;
- questão relativa aos capitais;

Mas é possível que nos paralisemos diante de duas questões:
- Em que proporção cada país membro vai reduzir suas emissões?;
- Em que condições cada país membro vai alterar seu modelo econômico de forma convergente?;

Duas premissas surgem:
- A economia não vai acabar, apenas deve tornar-se mais sustentável e correlacionada com o meio ambiente real mensurável, não o econômico estimativo simulável;
- A responsabilidade pelo aporte para formação e manutenção do fundo de capital global deve ser proporcional ao tamanho econômico do consumo nacional absoluto de cada país, imediatamente, enquanto se verificam outras formas de mitigação;

Ademais, em face da soberania nacional a obrigação de limitação de emissões é antes de mais nada uma tarefa cultural doméstica – cada pessoa, cada família; cada bairro; cada cidade; cada região; cada estado; cada país.
Além disto, o Direito Internacional permitiria o encerramento de uma corresponsabilidade global, tudo proporcional ao dano causado, histórica e presentemente.
A poluição nada mais é do que o subproduto da experienciação humana, quem usou mais tem mais informações decorrentes deste uso. Assim, o envolvimento tecnológico das potências desenvolvidas é absoluto, pois a tecnologia é a própria experiência.
Os direitos de patente e de propriedade intelectual devem ser utilizados em benefício da distribuição de conhecimento, pois seria absurdo ponderar que o segredo proprietário deve prevalecer sobre a reorganização da sobrevivência da espécie.
O desafio absoluto é mesmo a superação de uma crença econômica estabelecida.
Um “ethos” difundido, um jeito de explorar o planeta, um desejo de manipular a riqueza.
A impossibilidade invencível de dividir benefícios.

FELIZ ANO NOVO

Fábio André Chedid Silvestre
NMConhecimento

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